A pornofonia nas músicas contemporâneas angolanas e sua influência em crianças, adolescentes e jovens

Uma reflexão sobre os estilos Kuduro, Afro House, Afro Beat, Rap e Trap

Resumo

Este ensaio decorre da inquietude com o impacto negativo da pornofonia nos estilos de músicas Kuduro, Afro House, Afrobeat, Rap e Trap, mormente no comportamento de crianças, adolescentes e jovens em Angola. O fim fundamental do ensaio foi analisar criticamente os conteúdos pornofónicos, explícitos e implícitos, em letras com conteúdo pornofónicos. A pesquisa adoptou uma abordagem qualitativa e quantitativa (quali-quanti), de natureza descritiva e exploratória. Foram recolhidos dados através da análise de conteúdo de doze músicas seleccionadas e da aplicação de um inquérito por questionário a 114 participantes (65 crianças, 19 adolescentes e 30 jovens). As análises qualitativas foram orientadas pela técnica de Bardin (2011), e os dados quantitativos processados com recurso ao SPSS e Microsoft Excel. Os resultados evidenciam que 72% dos inquiridos afirmaram ter adoptado comportamentos desviantes influenciados por músicas com teor erotizado; 40% identificaram o estilo Kuduro como o mais associado a conteúdos pornofónicos; 61% reconheceram que essas letras reforçam estereótipos de género; e 71% consideraram negativas as mensagens que promovem a hipersexualização e a objectificação da mulher. Conclui-se que o consumo frequente e não crítico de músicas com conteúdos sexualmente explícitos contribui para a normalização da erotização precoce, influenciando negativamente o desenvolvimento afectivo, social e sexual dos jovens. Urge, portanto, promover uma educação musical consciente, incentivar a produção artística responsável e desenvolver políticas culturais que priorizem o respeito pelos direitos humanos e pela dignidade da pessoa.